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martes, 24 de mayo de 2011

Narlan Matos Teixeira: Elegía Ao Novo Mundo.

Narlan Matos.



















 
ELEGIA AO NOVO MUNDO

Tu me perguntas meu amigo
Onde eu estive durante meu longo silêncio

Estive na açucena das canas e na amargura dos canaviais
onde as folhas tremiam de medo dos homens

Os canaviais me sussuraram em gritos horrendos
o sangue amargo que lhe adocicou a boca
As mãos ásperas que lhe enxugaram a face
O canavial que morria de fome antes de completer 27 anos de idade
Das vozes sem estrela que embalavam ao longe línguas estranhas
Ó canavial verde, de que cor é meu sangue vermelho ?
Meu sangue tem medo da morte do açoite da noite
Meu sangue tem medo de mim

Tu me perguntas meu amigo
Onde eu estive durante meu longo silêncio

            Eu estive nos navios negreiros mercantes
que mercaram meu destino até a América até agora
            beberam minhas lendas como se bebe um barril de rum podre
            mercaram cada estrela do céu e do mar infinito
            cada pássaro cada pluma de meu cocar
            e desenharam mapas com meu sangue
            e ergueram totens sobre minha tribo
            e atearam fogo nos campos sagrados do meu povo
            e suas lanças me repartiram as veias em continentes distantes diferentes

Tu me perguntas meu amigo
Onde eu estive durante meu longo silêncio

            Estive pelas escumas dos mares nunca d’antes
            Por onde vieram a pólvora a baioneta o espelho a tuberculose a siflis
            Por onde vieram a espada e o elmo
-          As nuvens jamais se esquecerão disso !
No atlântico negro
Nos tombadilhos de velhos navios piratas
Nos cababouços da crueldade humana
Nas prisões da Serra Leoa – que ainda doem em alguma dobra do meu corpo
Em Angola 
Na Guiné-Bissau
No Senegal
No Benin
Estive no reino da Guatemala
E na provincia de Yucatán
E na provincia de Cartagena de las  Indias
E nos grandes reinos e grande provincia do Peru
E no novo reino de Granada
E nas ilhas de Cuba e Trinidad
E nos reino dos Aztecas
Onde espadas de brutalidade fenderam meu corpo nu
Onde os cães de caça dos barões das índias se alimentavam dos braços e das pernas de crianças indefesas

Tu me perguntas onde eu estive meu amigo
E somente agora posso quebrar meu silêncio:
Eu estive comigo.




           
           


ELEGY TO THE NEW WORLD


You ask me, my companion
Where had I been during my long silence

I was in the sweetness of the sugarcane and in the bitterness of the sugar cane   plantation
            Where the leaves trembled of fear of mankind
           
            The sugar cane plantation whispered in violent screaming
                                   The sweet blood that has sweetened its mouth
            The stern hands that dried its physiognomy
            The sugar cane plantation that died of malnourishment before the age of 30
            The voices without stars that rocked it to the distance strange languages
            Oh, green plantation! What color is the wine in my blood?
            My blood is scared of death of the whipping of the night
            My blood is scared of me

You ask me, my companion
Where had I been during my long silence

            I was in the merchant ships
                                               That traded my destiny to the Americas
            Drank the legends of my people just like a barrel of rotten rum
            Traded every star in the sky and in the infinite sea
            Each bird each feather in my cockade
            And drew maps with my blood
            And erected totems over my tribe
            And set fire in the sacred fields of my people
            And their lances split my veins into different continents
           
You ask me, my companion
Where had I been during my long silence

            I was by the foam of the seas never sailed
            From where gun powder bayonet mirror tuberculosis and syphilis came
            From where the sword and the elm came
            - The clouds will never forget that!

In the black Atlantic
In the calaboose of old pirate ships
In the calaboose of human degradation
In the prisons of Sierra Leona – which still ache somewhere in my body
In Angola
In Guinea Bissau
In Senegal
In Benin

I was in Guatemala
And in the Yucatan Province
And in the Cartagena de las Indias Province
And in the Great Kingdom and Great Province of Peru
And in the New Kingdom of Granada
And in the Islands of Trinidad
And in the Kingdom of the Aztecs
Where swords of gold and mud split my naked soul
Where the hunting dogs of the barons of the Indies were fed with arms and legs of native children

You ask me, my companion
Where had I been and only now I can break my silence:
I was with myself.


Narlan Matos  Teixeira (Bahía, Brasil, 1975). Poeta, traductor. Actualmente ejerce la docencia  en la La Universidad de Illinois, EEUU.  Entre otras distinciones  ha recibido  por su obra el premio Jorge Amado.