Narlan Matos. |
ELEGIA AO NOVO MUNDO
Tu me perguntas meu amigo
Onde eu estive durante meu longo silêncio
Estive na açucena das canas e na amargura dos canaviais
onde as folhas tremiam de medo dos homens
Os canaviais me sussuraram em gritos horrendos
o sangue amargo que lhe adocicou a boca
As mãos ásperas que lhe enxugaram a face
O canavial que morria de fome antes de completer 27 anos de idade
Das vozes sem estrela que embalavam ao longe línguas estranhas
Ó canavial verde, de que cor é meu sangue vermelho ?
Meu sangue tem medo da morte do açoite da noite
Meu sangue tem medo de mim
Tu me perguntas meu amigo
Onde eu estive durante meu longo silêncio
Eu estive nos navios negreiros mercantes
que mercaram meu destino até a América até agora
beberam minhas lendas como se bebe um barril de rum podre
mercaram cada estrela do céu e do mar infinito
cada pássaro cada pluma de meu cocar
e desenharam mapas com meu sangue
e ergueram totens sobre minha tribo
e atearam fogo nos campos sagrados do meu povo
e suas lanças me repartiram as veias em continentes distantes diferentes
Tu me perguntas meu amigo
Onde eu estive durante meu longo silêncio
Estive pelas escumas dos mares nunca d’antes
Por onde vieram a pólvora a baioneta o espelho a tuberculose a siflis
Por onde vieram a espada e o elmo
- As nuvens jamais se esquecerão disso !
No atlântico negro
Nos tombadilhos de velhos navios piratas
Nos cababouços da crueldade humana
Nas prisões da Serra Leoa – que ainda doem em alguma dobra do meu corpo
Em Angola
Na Guiné-Bissau
No Senegal
No Benin
Estive no reino da Guatemala
E na provincia de Yucatán
E na provincia de Cartagena de las Indias
E nos grandes reinos e grande provincia do Peru
E no novo reino de Granada
E nas ilhas de Cuba e Trinidad
E nos reino dos Aztecas
Onde espadas de brutalidade fenderam meu corpo nu
Onde os cães de caça dos barões das índias se alimentavam dos braços e das pernas de crianças indefesas
Tu me perguntas onde eu estive meu amigo
E somente agora posso quebrar meu silêncio:
Eu estive comigo.
ELEGY TO THE NEW WORLD
You ask me, my companion
Where had I been during my long silence
I was in the sweetness of the sugarcane and in the bitterness of the sugar cane plantation
Where the leaves trembled of fear of mankind
The sugar cane plantation whispered in violent screaming
The sweet blood that has sweetened its mouth
The stern hands that dried its physiognomy
The sugar cane plantation that died of malnourishment before the age of 30
The voices without stars that rocked it to the distance strange languages
Oh, green plantation! What color is the wine in my blood?
My blood is scared of death of the whipping of the night
My blood is scared of me
You ask me, my companion
Where had I been during my long silence
I was in the merchant ships
That traded my destiny to the Americas
Drank the legends of my people just like a barrel of rotten rum
Traded every star in the sky and in the infinite sea
Each bird each feather in my cockade
And drew maps with my blood
And erected totems over my tribe
And set fire in the sacred fields of my people
And their lances split my veins into different continents
You ask me, my companion
Where had I been during my long silence
I was by the foam of the seas never sailed
From where gun powder bayonet mirror tuberculosis and syphilis came
From where the sword and the elm came
- The clouds will never forget that!
In the black Atlantic
In the calaboose of old pirate ships
In the calaboose of human degradation
In the prisons of Sierra Leona – which still ache somewhere in my body
In Angola
In Guinea Bissau
In Senegal
In Benin
I was in Guatemala
And in the Yucatan Province
And in the Cartagena de las Indias Province
And in the Great Kingdom and Great Province of Peru
And in the New Kingdom of Granada
And in the Islands of Trinidad
And in the Kingdom of the Aztecs
Where swords of gold and mud split my naked soul
Where the hunting dogs of the barons of the Indies were fed with arms and legs of native children
You ask me, my companion
Where had I been and only now I can break my silence:
I was with myself.
Narlan Matos Teixeira (Bahía, Brasil, 1975). Poeta, traductor. Actualmente ejerce la docencia en la La Universidad de Illinois, EEUU. Entre otras distinciones ha recibido por su obra el premio Jorge Amado.